A Oração – Mateus 6, 5-15

A oração 

Passagem muito polêmica e que traz uma repreensão para a Igreja. 

Não orar para os outros verem, mas no quarto só para o Pai. 

Orar quando os outros estão vendo, temos que concordar, é muito difícil. Dizer as palavras pode até ser fácil para alguns. Mas se concentrar e meditar profundamente, não é, para a grande maioria, senão para todos.

É por isso que rezando em público tendemos a ser hipócritas. Porque há tanta superficialidade nessa oração que ela acaba sendo mais uma demonstração de fé para os outros. 

Isso pode até ser bom, quando incentiva os irmãos que não se sentem à vontade para orar, mas, se pensar bem, se eu quero realmente motivar alguém a se aprofundar na religião, eu preciso me aproximar desta pessoa, falar da Palavra com ela, orar com ela, ouvir a sua partilha e contar o meu testemunho, e por aí, vai.

Mas a oração em comunidade não agrada a Deus? Jesus diz que a comunidade precisa estar unida, em outra passagem, mas aqui ele diz que a conversa com Deus é que precisa ser sozinho, em intimidade.

A comunidade pode ter as suas atividades coletivas, como pregações, cânticos, caridade, comunhão, confraternização, e a própria Santa Missa, mas sempre com o intuito de todos se expressarem juntos e não que alguns se destaquem pelas suas orações, demonstrando intimidade com Deus em público, desta forma na qual já entendi que não há a profundidade ensinada e requerida por Jesus.

De novo, quando Jesus fala para não rezar nas sinagogas e esquinas, Ele também quer dizer que estas pessoas podem falar em público, não com o Pai, mas com os seus irmãos. Dar palavras de consolo e edificação, pregar o Evangelho, entoar cânticos e louvores e fazer uso de dons e sinais para a conversão dos irmãos, conforme a vocação de cada um.

Jesus não quer desmotivar a ação das Igrejas nem dos movimentos de rua, mas quer apenas dar a devida diferenciação e o devido valor ao momento de conversa com o Pai. Ele está destacando este momento dos demais momentos da vida religiosa, o tirando da vida comunitária e destinando apenas à vida privada. 

Quantas e quantas vezes nós insistimos em orar em público, mesmo sabendo que Jesus já disse que não O agrada. Fazemos porque fomos ensinados, mas, agora, entendemos melhor a Palavra. A oração é íntima, segundo Jesus. Então, assim O faremos. 

Um erro que eu cometia, neste sentido, era orar nas redes sociais, quando alguém pedia oração. Ou orar a Deus nos meus textos na Internet. A intenção era motivar a intimidade com Deus, mas, agora eu já sei que não devo fazer. No lugar disso, eu posso levar os próprios irmãos a uma meditação, etc., e não falar com o Pai de forma superficial. 

Não falar demasiadamente na oração. Não ser prolixo. 

Tratando-se de uma oração, o que seria ser prolixo? Como saber se já passei da conta nas palavras? 

Jesus responde essa pergunta assim: o Pai já sabe o que vocês precisam antes mesmo de pedirem. 

Quando Ele diz isso, me parece que afirma que toda oração, no fundo, é um pedido a Deus. E faz sentido pra mim. Mesmo que estejamos apenas agradecendo, a nossa intenção sempre a de que desejamos que a benção seja mantida na nossa vida. E o Pai conhece a nossa intenção mais profunda. Ele sabe de tudo. 

Mas, sim, Jesus ensinou a pedirmos para recebermos. Ele só está dizendo aqui que este pedido não precisa ser longo. Não são necessários argumentos para alcançar a graça. Quando falamos na oração, na verdade, estamos mais meditando sobre o que estamos dizendo do que falando algo que o Pai precise ouvir. 

Então, Jesus quer que nós não percamos tempo com mil pensamentos em oração, tornando-a uma oração agitada e, novamente, superficial, mas Ele quer que nós falemos pouco, fiquemos em silêncio e ouçamos a voz Daquele que fala em tudo. 

No momento da oração feita como Jesus está ensinando, eu vou trazer à memória situações da minha vida que vão responder aos questionamentos e até pedidos que eu já fiz ao Pai dentro de mim. Sim, porque eu já fiz dentro de mim, ele já soube e talvez já esteja em ação para dar a resposta. 

Para que eu ouça, preciso contemplar o agir de Deus na minha vida e na dos meus próximos. Quando eu faço isso, eu estou em oração. Preciso falar pouco, falar somente o que é necessário para ativar a minha consciência sobre o Pai. Jesus entra em mais detalhes, no Pai Nosso. 

O modelo de oração do Pai Nosso:

Pai Nosso… Podemos chamar o nosso Senhor, o Criador, de Pai. Jesus vem me dizer que eu posso ter intimidade com o Criador, que eu posso pensar Nele não mais só como o Senhor, que cria tudo, que salva os povos, que ajuda a vencer guerras, ajuda na caminhada do povo nos desertos, e que julga para haver justiça. 

Além de tudo isso, agora, eu posso chamar esse Todo-poderoso de Pai. Então, ele ganha características de um pai. Eu posso conceber que ele se preocupa comigo, pessoalmente. Ele me acorda para que eu vá para o trabalho, caso eu tenha perdido a hora. Ele me lembra do que eu tenho que fazer no dia. Me diz que eu estou bem arrumado e pronto para sair. Me encoraja, me diz que vai dar tudo certo. Me abraça e abençoa. 

Ele me parabeniza quando eu faço um bom trabalho, olhando nos meus olhos, com as mãos segurando a minha cabeça. Ele me diz que eu sou um vencedor. 

Digerir o que Jesus está me dizendo não é fácil, porque eu não estou vendo o meu Pai fazendo tudo isso. Mas, obviamente, Jesus não está equivocado, nem dizendo inverdades e muito menos brincando. Todas as suas palavras são inspiradas pelo Seu e nosso Pai. 

Relembro do batismo de Jesus. O Pai confirma a todos que Jesus é o seu filho tão amado, que o agrada. Para que não haja dúvidas sobre a relação entre ambos. 

Jesus é o único que tem reconhecida publicamente a filiação divina. Mas, Ele, com toda a sua intimidade com o Pai, garante que nós também somos filhos Dele. 

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“… Que estás nos céus” o Pai está nos céus. Não temos certeza de como são os céus com exatidão, mas Jesus nos garante que é para onde vamos se realizarmos a Vontade do Pai. 

Este Pai está vivo nos céus, com todo o seu poder, Criador de tudo, de todo o universo, em todas as dimensões, tanto no universo espacial quanto no universo quântico, os já conhecidos e os ainda desconhecidos por nós. 

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“Santificado seja o Teu Nome”. Ao mesmo tempo, eu afirmo que santo é o Teu Nome e peço para que ele seja sempre concebido com toda a sua santidade, pureza e grandiosidade por todos. 

Que o Santíssimo Nome seja tão valorizado, honrado e respeitado quanto o próprio Pai ensinou quando lhe foi perguntado qual era o seu nome, no passado e ele respondeu simplesmente: “Eu sou”. 

O Nosso Pai é Aquele que Tudo é, sem outras denominações. É o nível de respeito que temos que ter pelo nome Dele, porque respeitar é tratar o outro como ele se sente bem tratado e Ele mostrou que é desta forma. 

Apesar de, em outras culturas, haverem deuses personificados e nomeados, e haver até no monoteísmo uma vontade de nomear o Pai, o que nós temos como denominação dada por Ele a Si próprio são só essas duas: Ele diz que Tudo É, e Jesus diz que ele é o Nosso Pai. 

E sempre que falarmos do Nosso Pai, o que Tudo É, devemos falar com a consciência de que Ele é o que há de mais santo. 

Não posso me referir ao Pai como a uma pessoa comum. Não posso ter um sentimento que tenho por outro ser humano com relação a Ele. Não posso dizer qualquer coisa, como se Ele fosse um mero ser humano. 

Muito se fala sobre a importância de se ter intimidade com Deus, mas Jesus esclarece que essa intimidade se dá de forma especialíssima, não como se dá entre os humanos. 

A intimidade com o Meu Pai Eterno se dá à medida que eu o ouço com bastante frequência, medito sobre ele, vejo a ação Dele na minha vida, dou um sorriso para Ele quando sei que Ele acabou de me dar um sinal. É uma intimidade sutil. Meditativa. Com concórdia: de coração para coração. 

Se eu pensar no respeito que eu teria ao falar diretamente com um presidente do meu país ou de um dos países mais poderosos do mundo, consigo ter uma idéia do respeito que devo ter pelo Meu Pai.

 Em comparação a Ele, o mais poderoso desse mundo não tem o mínimo de poder. Não é nada. O mais poderoso do mundo deve ser grato pela sua existência e por poder respirar mais uma vez e a sua vida deve gerar frutos por essa gratidão. 

Pensando no Pai, eu e o mais poderoso do mundo estamos juntos, com a mesma importância. Nós dois somos herdeiros do Reino dos Céus e temos um projeto a executar aqui na Terra, como irmãos. 

Nada do que há de mais puro, de mais belo, de mais rico, nem de mais importante neste mundo tem toda a santidade do Nosso Pai. 

Se eu admiro e até reverencio coisas impressionantes desse mundo, grandes feitos e grandes épocas, imagino o quanto que devo reverenciar ao Meu Pai e Criador Meu e de Todas as Coisas. Criador de tudo. Aquele que tirou tudo do nada e deu a existência, pela Sua Vontade e amor em essência. 

Não só o Criador, mas o que É Tudo. Ele é tudo o que eu vejo, inclusive a mim mesmo. Quão santo Ele é. 

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“Venha o Teu Reino” ou “venha a nós, o Vosso Reino” 

Sempre achei que pedia para que o Pai viesse a nós e que nós fôssemos o reino Dele, mas vejo que pedimos para o Reino Dele vir a nós. 

Quando Jesus fala que o Reino dos Céus está próximo, e todas as outras parábolas sobre o Reino, me dá a impressão de que o Reino não está na Terra e nem estará, mas, pensando bem, isso não é dito por Jesus claramente nas suas falas. 

Nesta oração, também não. Não fica claro se ele pede que o Reino sobre o qual ele ensina se realize aqui na Terra ou se apenas pede que ele se realize, sem citar o lugar onde isto acontecerá. Jesus deixa esta lacuna como um mistério da fé. 

Mas uma coisa é clara: é preciso pedirmos que o Reino venha. Também não é claro se eu peço que venha a todos ou somente a mim. Provavelmente, peço que venha a todos os que crêem. Mas o principal é que o pedido é necessário. 

Quando eu peço pela vinda do Reino, eu concebo esta vinda na minha consciência. Eu alimento a minha fé Nele. Posso até me estender nessa meditação, pensando nele em todos os detalhes. Penso em como o nosso mundo vai se transformar. E mais: passo a ver o mundo já como quem olha o lugar que fará parte do Reino. Eu valorizo este lugar, porque ele é santo. Valorizo a todos que adentrarão ao Reino comigo, que são os crentes. 

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Seja feita a Tua Vontade, como no céu, assim também na terra. 

Que a Tua Vontade seja feita sempre. Dizendo isto, estou afirmando o que desejo e também estou pedindo que aconteça. 

Eu peço ao Pai que a Vontade Dele seja feita sempre. 

Mas por que eu preciso pedir, se isso aconteceria independentemente do meu pedido acontecer ou não? E por que eu preciso afirmar que desejo isso? Por que Jesus está me ensinando a dizer tudo isso? 

Deduzo que estou de frente para um ensinamento de Jesus sobre mais um mistério dos céus. Mais uma Verdade sobre a minha existência. 

Bem, tudo o que é criado neste mundo material é da Vontade de Deus, manifestada no Verbo Criador. 

Tudo o que acontece neste mundo tem uma ação que a antecede. A ação antecessora pode causar diretamente a ação posterior ou até mesmo influenciá-la ou dar condições para que ela aconteça. 

Todas as ações que acontecem no mundo tem uma influência maior. É como se todos fôssemos uma orquestra e fôssemos regidos por um maestro com uma partitura à mão, claro. 

Parece que somos parte de um grande organismo. Somos células dele, e, por isso, não o enxergamos completamente. Mas apenas vemos uma limitada harmonia em meio ao caos dos movimentos dos nossos vizinhos, assim como as células vêem o mundo ao redor delas. 

Nós, instintivamente, sabemos que há uma lógica maior, que não entendemos completamente, mas que é descrita pelas ciências, como a matemática. Ela é a partitura da existência material. 

E a esse maestro, a esse organismo maior, nós denominamos como Deus. 

Portanto, a Vontade de Deus é algo inimaginavelmente maior do que nós podemos pensar. 

Mas Jesus está me dizendo que, apesar da minha insignificância diante da Vontade de Deus, Ele me dá o direito de pensar sobre ela, de desejá-la e até de pedir para que Ele a manifeste no mundo. E Ele me diz que essa minha ação tem influência sobre a Vontade do Pai, porque Jesus não me ensinaria a falar com o Pai em vão. 

Se Ele me diz que eu tenho esse direito, é porque ele está disponível. E quando eu não usufruo do meu direito, eu abdico dele, obviamente. 

Então, diariamente, eu posso optar por acompanhar a Vontade de Deus, meditar sobre ela, dizer que eu a desejo, pedi-la a Ele. Fazendo isso, eu estou mostrando a minha gratidão pela Vontade do Pai. 

Meditando sobre a Vontade Dele, eu vejo quão pequena é a minha vontade. As coisas que eu quero para a minha vida e para as vidas dos outros são pequenas variáveis dentro das equações quilométricas da Vontade Maior, que são materializada todos os dias no mundo inteiro. 

Jesus me ensina a me colocar no meu devido lugar, fazendo essa meditação. Assim, qualquer ansiedade minha, qualquer frustração ou tristeza diante de algo que aconteceu, qualquer sentimento negativo ou até uma disfunção psicológica e física que eu já tenha adquirido por não ter tido as minhas expectativas atendidas pelo mundo, tudo isso se desfaz. 

Quem sou eu diante da grandeza do Espírito? Eu não sou nada mais que um executor da vontade Dele, assim como todos os outros. 

Só me cabe conceber isso na minha cabeça para que eu viva mais a Vontade do Pai e viva mais feliz. Feliz porque vou viver em Verdade. 

Quando eu oro e medito sobre isso, estou me conectando com a Verdade. E mais: estou me tornando mais capaz de enxergar a Vontade do Pai se manifestando em tudo o que acontece. E estou me tornando mais capaz de atendê-la. Sou mais feliz e mais produtivo. Portanto, vivo exatamente como Deus quer e conforme o que Ele quer de mim, desde que me deu a existência. 

É até óbvio, só é difícil de entender completamente e aplicar na minha vida com maestria. 

Mas isso já é aplicado com maestria, nos céus. No céu, não há pecado. Lá, a consciência que todos têm do mundo espiritual e do próprio Pai é muito maior. No céu, também, ninguém tem as necessidades e vontades que nós temos encarnados no corpo físico, na Terra. 

No céu, essa realidade já existe. E Jesus me diz que eu posso e devo pedir para que a vontade de Deus seja buscada por mim e por todos na Terra, da mesma forma que já acontece no céu. 

Imagino a quantidade de seres celestiais que existem. Possivelmente, eles estão em mais quantidade do que nós, aqui na Terra. O céu é muito maior. Faz todo sentido eu meditar, pedir e agradecer ao Pai que aqui neste lugar temporário, de provações, a Vontade seja feita, como os seres celestiais o fazem no céu, como o próprio Jesus me ensina. 

Que a Vontade do Pai seja feita na Terra assim como já é feita no céu. 

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O pão nosso de cada dia, dá-nos hoje. 

Relembra o maná dado por Deus ao Seu Povo, todos os dias, enquanto eles caminharam no deserto, na fuga do Egito, rumo à Terra Prometida. 

Eu continuo caminhando nesse deserto e precisando desse maná. 

Em cada celebração dos festejos do Povo de Deus, há o símbolo do alimento, bem como também há na Eucaristia.

Depois, Jesus vai me dizer que Ele mesmo é o Pão. Ele alimentava o povo de Deus de todas as formas e também nos alimenta. Ele é o maná. 

Quando Jesus estava encarnado, o próprio Pão estava encarnado, alimentando o povo, não mais pelo simbolismo do maná, mas com a revelação mais clara do que nos tempos do êxodo. 

Hoje, este maná é dado a nós pela Presença do Espírito Santo e pela Palavra Criadora, que se manifestou diretamente ao mundo, e que está registrada na Bíblia. 

Eu sobrevivo com Ele e também parto o pão com os irmãos diariamente e nas reuniões de comunhão dos filhos que crêem, que são as santas missas. 

Eu peço pelo Pão na minha oração para expressar a minha gratidão e a minha vontade de tê-lo. 

Aí, temos mais um mistério espiritual. Se o Pão já me é dado, porque eu devo pedi-lo? 

É porque este Pão alimenta a minha consciência. Novamente, Jesus me mostra que eu posso influenciar nisso. O Pai já me dá o Pão de graça, sem nada em troca, mas eu posso optar por recebê-lo ou não. Este Pão que é a presença de Deus, a Palavra Criadora, eu posso negá-lo em parte. 

A Vontade de Deus é soberana, mas eu posso optar por manter a minha consciência Nele ou não. Quando eu a mantenho Nele, eu me alimento do Pão. 

Quando eu peço pelo Pão, eu direciono a minha consciência a Ele e o recebo. Eu digo que tenho mais fome e o Pai me alimenta conforme a minha fome. 

Ele sempre me alimenta. Mas eu posso pedir mais e mais por este Pão, que é estar na presença de Deus e o ouvir. 

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Perdoa-nos as nossas dívidas ou ofensas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores ou aqueles que nos têm ofendido. 

Entre os evangelistas e a tradução do texto para o latim, há o uso das palavras dívidas e ofensas. Então, eu entendi que elas têm grandes semelhanças. Pesquisei e São Tomás de Aquino confirmou. 

São Tomás me disse que quando pecamos, tiramos um direito de Deus, que é o da Sua Vontade ser feita. Então, voltamos à idéia do livre arbítrio e da Vontade do Pai, já citada na oração. 

O Pai me dá a possibilidade de seguir a Sua vontade ou não. Ele faz isso por uma questão didática. É difícil de entender, mas serve para o meu aprendizado. 

Ele quer que eu viva no céu, como Ele quis para Adão e Eva. Mas ele também quer que eu tenha consciência de que eu posso ir ou não. Ele quer que eu entenda que há a possibilidade da morte, caso eu não queira viver na Eternidade com Ele. 

Mas Jesus me diz nesta oração que não é a Vontade do Pai que eu não vá para a Eternidade com Ele. Como já foi dito antes, na oração, eu devo querer e pedir para que a Sua Vontade seja feita.

Tudo o que existe no mundo é da Vontade do Pai. Este é um princípio que faz sentido pra mim e me ajuda a entender porque eu também tenho que existir conforme a Vontade Dele. 

Então, eu entendo que, quando Ele me dá o livre arbítrio, é porque ele quer que eu escolha fazer a Vontade Dele conscientemente. 

Mas aí eu penso: por que Ele faz isso? Não seria mais fácil Ele me dar a natureza de ser santo e destinado à Eternidade sem ter que passar por essa luta aqui na Terra, entre: satisfazer a minha vontade, que é mais fácil, e satisfazer a Vontade Dele? 

Sim, seria mais fácil. Porque para eu fazer a vontade do Pai, antes, eu preciso entender qual é a vontade Dele. 

E para complicar um pouco mais, eu vou ter que fazer esse exercício durante toda a minha vida. Em um dia, eu posso acertar, e no dia seguinte, errar. 

Para acertar mais vezes, eu vou precisar ter uma vida tentando entendê-Lo. Vou precisar ter uma vida contemplativa, de oração e ainda assim, é muito difícil. 

Seria um pouco mais fácil se o próprio Pai viesse à Terra ensinar como fazer isso. Foi o que o Pai fez enviando Moisés, os profetas, e por fim, Jesus. 

Agora, ficou mais fácil. Eu tenho ensinamentos que me dão um norte. Jesus esclarece os ensinamentos do Pai por Moisés e pelos profetas, que não tinham o grau de sabedoria do próprio Filho de Deus. 

Jesus me ensina princípios e me dá uma noção mais clara de quem eu sou e para onde eu vou. De quem é o Pai. De como me relacionar com Ele e com os meus irmãos. 

Jesus mostra que as pessoas haviam aplicado os mandamentos e ensinamentos de Deus da forma errada por séculos. 

Jesus me diz que sim, é muito difícil ser santo, viver a vontade do Pai de forma plena. Só vai ser possível se eu crer em Jesus e segui-Lo completamente. Se eu não fizer isso, não tem jeito. É humanamente impossível. Eu só vou conseguir com as forças de Jesus. 

Enquanto eu não consigo crer e segui-Lo como Ele ensina, a cada dia, eu vou acumulando dívidas com Deus. Ele quer que eu seja perfeito e a cada erro, eu vou ficando em dívida com Ele. E ao mesmo tempo, eu O ofendo, porque Ele me criou para ser perfeito. 

Em muitos momentos, isso se torna pesado para mim, e Jesus também me diz que só Ele pode aliviar o meu peso. 

Quanto mais eu agir, mais chances eu tenho de errar. Quanto mais longe de Jesus, também. 

Percebo que essa é a conclusão a que chegam os monges eremita, que vivem longe da sociedade, como nos desertos. 

Também descobriram isso, os religiosos que vivem em clausura. O que é a clausura? Viver com mais oração do que ação. “Mas eles não vivem bem aqui na Terra”. Sim, mas o que importa cem anos para eles? Eles querem é viver a Eternidade. 

Até em outras culturas, há as pessoas que se afastam e vivem em meditação e oração. Elas deduziram a mesma coisa: quão difícil é viver para aquilo que fomos realmente destinados, que é a Eternidade, se nós vivermos buscando a satisfação das nossas vontades no mundo. 

Eu não quero viver em dívida com o Pai nem ofendê-Lo. Ninguém quer. Porque assim, eu morrerei e não viverei a Eternidade Santa, plenamente feliz. É por isso que eu preciso focar a minha vida na Terra nisso. Parece difícil fazer isso por quase cem anos, mas esse tempo não é nada diante da Eternidade. 

Alguns santos entenderam que há um recurso para me ajudar caso eu não consiga satisfazer a Vontade de Deus durante a minha vida, que é o purgatório. Então, Ele é uma extensão da vida na Terra, mas já no mundo espiritual. Lá, eu vou ter uma consciência clara deste mundo além do material, mas vou sofrer dificuldades maiores, porque a quem mais é dado, mais é cobrado. 

Por fim, concluo que é muitíssimo difícil a minha missão na Terra. Como não errar? Como não pecar? Como não ofender a Deus? Como não fazer uma dívida sequer com Ele? É como andar na corda bamba por quilômetros. 

Então, Jesus me ensina que, mesmo com a ajuda Dele, é difícil. E o Pai sabe disso melhor do que ninguém, é óbvio. 

De novo: não sei porque exatamente, isso é muito profundo para mim, mas tem um motivo em existir tamanha dificuldade: o Pai está me mostrando que eu preciso Dele e que Ele quer se relacionar comigo. Quer me amar. Quer perdoar as minhas dívidas. Só Ele pode fazer isso e eu preciso viver COM ELE. Sempre. 

Perdoar as dívidas ou ofensas significa amar em plenitude. Eu posso viver uma vida de amor pleno com o Pai aqui na Terra, já antecipando a Eternidade, ou já a vivenciando. 

O Pai é puro amor. Ele é o Amor Pleno. Sim, disso eu sabia, mas eu não sabia que eu precisava tanto Dele e Ele me amava tanto, até passando por cima da Sua Santíssima Vontade, aquela pela qual eu oro. Portanto, eu oro por ela, mas ao mesmo tempo, ela não pode acontecer completamente por conta da minha limitação. 

Para que a Vontade Dele seja feita plenamente, Ele me ama e perdoa. 

Por muito tempo, nós não entendíamos isso muito bem. Todos achavam que bastava viver conforme os mandamentos. Achávamos que bastava ter bons princípios. Que bastava termos uma boa filosofia, cheia de pensamentos inteligentes interligados formando grandes teorias. Muitos ainda acham isso até hoje. E Jesus veio esclarecer: a missão não é humana, mas espiritual. Eu não posso vencer sem o Espírito.

Dito tudo isso, vem mais uma questão: Jesus diz que não basta que eu viva e vença com o Espírito Santo do Pai. O Pai só vai me amar plenamente e me perdoar as dívidas se eu perdoar as dos meus irmãos na Terra. 

Então, temos mais uma regra no jogo. Não tem como eu vencer sozinho. Eu preciso ajudar na salvação dos irmãos. É regra dada pelo Pai. 

Para eu ser perdoado eu preciso perdoar os irmãos. 

Isso é difícil pra mim, porque eu mesmo já estou numa luta diária pra sobreviver e pra entender a Vontade do Pai e satisfazê-la. 

Mas o Pai me ensina como fazer isso. Ele próprio precisa criar continuamente todas as coisas para que nós alcancemos a Eternidade e ainda tem que perdoar as faltas de todos nós, por várias e várias vezes, por todas as vezes que pedirmos crendo em Jesus. 

O Pai cria todas as coisas pra mim e ainda me perdoa por muitas vezes. Eis o ensinamento: tudo é Amor. É amor na criação e amor no perdão. Quando nós saímos totalmente desse ensinamento, o Pai enviou Jesus. Todos ficaram felizes. O Filho do Homem estava entre nós. Mas Ele se foi rapidamente, por culpa nossa. Ele viveu apenas para ensinar o amor e morreu por amor, para ensinar o amor também com a sua morte e, antes, pedir ao Pai que todos nós fôssemos perdoados. 

Jesus era humano e perdoou quem o matou. Morreu por nós. Sofreu a maior injustiça possível. Ele sabia que isso iria acontecer, por tudo o que eu concluí nessa parte da oração. Era muito difícil para aquelas pessoas fazer a Vontade do Pai, assim como é para mim. 

O que elas fizeram com Jesus, eu posso fazer com os meus irmãos. Condená-los à morte. Como? Não perdoando. 

Mas eu também posso fazer como Jesus fez com os que o mataram. Amar para levá-los à Eternidade, perdoando. 

Jesus não tinha opção. Nem eu tenho. Ele não é pecador, mas eu, sim. Então, o Amor Dele por todos, inclusive por mim, é incomparavelmente maior que o meu. 

São as nossas missões na Terra. Se Ele não nos salvasse, não seria glorificado. Nem Eu vou ser, se eu não lutar pela salvação do meu irmão, dando-lhe o perdão. 

Jesus me garantiu. O meu irmão precisa do meu perdão, além do perdão do Pai. E eu mesmo só vou ser perdoado se eu perdoar. 

Está montado o tabuleiro de xadrez. Todos nós devemos dar perdão para todos os lados, além de viver reduzindo os nossos erros e pedindo perdão quando falharmos. 

Quando eu penso em tudo isso que eu tive que entender até aqui, o quão difícil é para mim viver na vontade de Deus e quantos não conseguiram, mesmo seguindo os mandamentos à sua maneira, por séculos, consigo entender melhor a dificuldade do meu irmão e perdoá-lo.  

Nós só vamos vencer juntos. 

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Não nos deixeis cair em tentação, mas livra-nos do mal. 

Já sei que estou junto com os meus irmãos. Não há vitória se só um vencer. 

Então, Jesus nos ensina a pedirmos juntos uns pelos outros: Pai, livra-nos daquele que quer nos separar para que morramos. 

Jesus, provavelmente, sofreu tentações menores quando era jovem. Mas a maior veio quando Ele estava pronto para dar um passo mais profundo nos planos do Pai. 

Da mesma forma, somos e vamos ser tentados, cada vez mais.

A tentação não é algo ruim aos olhos humanos, porque o espírito caído não oferece nada mais do que satisfazer a nossa vontade. “Que coisa boa! Eu estou satisfazendo cada vez mais a minha vontade”. 

Porém, eu me lembro do que eu acabei de meditar: como é difícil viver a vontade do Pai. À medida que eu me entretenha mais e mais satisfazendo a minha vontade, menos eu consigo satisfazer a do Pai. Portanto, relembrando: eu vou ouvir menos o Pai, entender menos a vontade Dele, errar muito mais é precisar de muito mais perdão dele. 

Fora que eu só vou ser perdoado se eu estiver amando e perdoando os meus irmãos em igual ou maior proporção. Mas como eu vou conseguir fazer isso concentrado na minha satisfação e não na necessidade do meu irmão, muito menos na Vontade do Pai? 

Então, esse é o trabalho do encardido no xadrez da minha vida. É só fazer a minha vontade. Quanto mais ela é feita, mais eu me afasto do Pai. Aqui nesta vida, isso pode até parecer proveitoso. Mas o que é uma vida na Terra diante da Eternidade? 

Ao mesmo tempo, eu quero o amor do Pai e quando sou abençoado sinto o Amor Dele. E nesse momento, a minha vontade é satisfeita. 

Então, não é um jogo fácil, esse da tentação. E mais uma vez: eu só vou vencer se eu entender, momento após momento, dia após dia, a verdadeira Vontade do Pai. 

E mais: Jesus me ensina que fugir da tentação também é humanamente impossível porque nos ensina a pedir isso diretamente ao Pai. 

Pai, livra-nos do mal. Livra o meu irmão e eu. 

Quando o meu irmão for tentado ou errar, entrar em dívida comigo e com o Pai, nos livra do mal. Livra a ele, para que não caia, e a mim, e me faz perdoar. 

Só Tu podes fazer, então, nós Te pedimos. 

E assim, retomaremos o caminho do bem, que é o caminho da Tua Vontade, uma vida Contigo. 

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