Não Devo Julgar – Mateus 7, 1

Não julgue

Não devo julgar

Se eu julgar, vou ser julgado da mesma maneira, à mesma medida que eu uso. 

É muito difícil, para mim, não julgar. A minha mente trabalha julgando, o tempo todo. Eu observo quem pode ser mais amistoso para eu me relacionar, quem não está em paz e oferece algum risco para mim, quem pode me ajudar, e por aí vai. 

Basicamente, eu preciso dividir as pessoas em dois grupos: o de heróis e o de vilões. Ou mocinhos e bandidos. 

Eu classifico as pessoas conforme as suas aparências, o que dizem, o seu jeito, e as coisas que fazem. 

E, claro, essa classificação muda a cada instante. Afinal, eu não posso ser pego desprevenido. 

Esse mecanismo foi criado nas nossas mentes quando nós ainda dormíamos em cavernas e andávamos centenas de quilômetros por dia. Éramos caçadores-coletores. Em qualquer lugar, nós éramos muito ameaçados. Só os mais “espertos” sobreviviam. 

Não era bem visto ser uma pessoa que não julgava os outros. Se ela fosse assim, provavelmente, morreria primeiro. Precisávamos ficar sempre com a defesa pronta. 

A comunicação verbal surgiu por conta disso. Para que nós fofocássemos. Para analisarmos o que poderia haver de mal em alguém no grupo, principalmente, alguém novo. 

Quanto menos eu conheço a pessoa, mais provável que eu tenha fantasias sobre ela, positivas e negativas. Geralmente, mais negativas que positivas. 

O mais comum é que eu pense negativamente sobre as pessoas e sobre os fatos, porque, assim, vou estar preparado para o pior, para não morrer. 

Por outro lado, eu sei que também sou julgado pelos outros. Porque a natureza deles é igual à minha. 

E é esse o maior motivo de tensão no mundo: quando pensamos que podemos ser julgados, também esperamos que sejamos condenados, talvez a grandes penas, como a ficar sozinho em uma cela ou até mesmo morrer. 

Então por que Jesus me diz que eu só vou ser julgado se eu julgar?

Ele está falando do julgamento de Deus. 

Ele está me dizendo que entende que a minha natureza animal e primitiva seja essa, mas que quer que essa natureza mude. Não há mais necessidade de sermos os mesmos. Ninguém vive mais nas cavernas soltando grunhidos ininteligíveis. O mundo evoluiu. 

Mas mesmo no mundo de hoje, o mal ainda existe. Então, Jesus quer que eu seja ingênuo? Eu acho que é mais ou menos isso, sim. 

Tanto é que ele também diz, em outro momento, que só vamos para o céu se formos como as crianças. Ora, as crianças brincam e interagem com qualquer pessoa, geralmente. Quanto menores, mais fácil de isso acontecer. 

As crianças brigam mas logo se resolvem, para poder continuar brincando. Uma criança não leva a outra para a delegacia ou para a justiça. E não é só porque não pode, mas porque não vê necessidade. 

Então, Jesus quer que eu interaja abertamente com qualquer pessoa, sem fazer julgamentos. E que eu permaneça assim diante de qualquer coisa que ela diga ou faça. Que eu não a censure nem a condene a qualquer tipo de penalidade quando ela erra. Não dê um castigo. Não tome distância. Não me sinta injustiçado. Não queira reparação. 

No fundo, em outras palavras, Ele está me ensinando que o certo é que eu ame, sem nenhuma condição que torne o outro bom o suficiente para ser amado. Amor incondicional. 

É o certo porque o mundo só vai evoluir no amor se alguém tomar a frente e der o exemplo. E ele quer que os seus discípulos sejam o exemplo. A luz do mundo. 

Mas não deixa de ser uma missão difícil para mim. É como fazer acrobacias de circo. Pior que isso. É com pessoas me atrapalhando o tempo todo. 

E eu só tenho condições de fazer essas acrobacias, esses saltos para fora da minha natureza, se eu for treinado para isto com muita dedicação e tiver todo o suporte necessário. 

Eu posso me dar muito mal se não julgar. Esse pensamento me rodeia o tempo todo. Eu posso ser roubado, mal tratado, humilhado, posso ser feito de besta, a minha honra pode sofrer danos irreversíveis. 

Eu preciso ser corajoso. Mas Ele próprio me encoraja. Já me disse que o que mais perde nesse mundo é o que mais vai ganhar no reino dos céus. 

Então, não há com que me preocupar. Eu não estou sozinho. Eu não estou solto no mundo, sem um propósito. Eu estou aqui sendo amado e recebendo todo o suporte do Pai para realizar a minha missão de ser um ser humano melhor e tornar o mundo melhor. É isso que preciso ter em mente. 

Em qualquer dificuldade, eu O tenho para me consolar e para me ajudar a superar. É disso que eu preciso ter certeza. Mas sem intimidade com o Pai, eu não tenho essa certeza. É isso que eu tenho que buscar. 

Se eu ainda julgo e tenho medo de ser julgado, é porque ainda não tenho confiança suficiente no Pai. Ainda não vivo os Seus planos plenamente. Ainda não tenho vida interior suficiente. Não tenho coragem de ser como as crianças. 

Se eu pensar bem, isso trava a minha vida. Impede que eu realize e viva coisas maiores e melhores. O julgamento puxa o meu freio de mão a cada quilômetro andado. É muito cansativo. 

Perco muito tempo pensando em como julgar e em como fugir do julgamento e da punição. Em como acusar e como me defender. Faço isso várias vezes ao dia. 

Quando na verdade, tudo ao meu redor está bem. Está tudo bem. Há pessoas fazendo e falando coisas certas e coisas erradas, mas nada que me tire o pedaço e muito menos que me mate. Tudo é perdoável. 

Pensando assim, eu me torno mais forte, mais adaptável a qualquer pessoa, as minhas chances de sucesso aumentam. 

Eu guardo mais energia para coisas úteis, realizo mais. 

Eu sou mais bem visto. Sou visto como um líder do bem, não pelas minhas palavras, mas por ser forte e perseverante nas dificuldades com qualquer pessoa. 

Posso focar em ser mais carismático e empático. Sair da prisão do julgamento me permite uma liberdade imensa. 

Em qualquer lugar do mundo, eu vou me sentir bem. Então, me abre todas as portas. 

Quanta coisa eu ganho me livrando dos julgamentos. Certamente, a tendência é que que seja muito feliz. Custa o risco e o meu medo, mas o lucro é muito recompensador. 

Levando esse pensamento para o nível da humanidade, como um todo. Quanto o mundo pode ser melhor quando o julgamento for mais evitado. 

É possível, mas é preciso que existam corajosos. E, sim, eles podem ter que pagar com a própria vida, se não julgarem ninguém pelos seus erros. Pode ser que os erros do outro aumentem e o mal tire a vida do corajoso. Então, é preciso existam mártires também. 

Mas no fim das contas, estamos fazendo isso visando o nosso próprio aprimoramento para alcançar o reino de Deus. O objetivo é ganhar a Eternidade e nada aqui nesse mundo tem importância diante disto. Mesmo que eu morra por viver o que Cristo ensina, eu ganho a Eternidade. Eu só ganho a morte real, a morte para sempre, se eu não crer Nele e nos seus ensinamentos. 

Que eu seja corajoso para ser bom. Que os frutos disso iluminem mais pessoas para fazerem o mesmo. 

Que seja a vontade do Pai. 

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