Olho por Olho – Mateus 5, 38-42

Olho por olho

Olho por olho parece justo, e por muitos anos foi uma solução de justiça para uma sociedade. Dizia que tínhamos direito ao reparo do prejuízo que nos foi causado, em igual quantidade. 

Nós até carregamos a herança genética e de senso comum dessa sociedade. Talvez, por isso, nós tenhamos essa sede de justiça pessoal, até hoje. De “não levar desaforo pra casa”. Essa vontade de colocar todo mundo na justiça. Para os mais violentos, até a vontade de ter a reparação de um dano batendo no outro. Para os não tão violentos, a vontade de ofender, condenar e humilhar.

Por que nós temos essa vontade tão grande de reparação?

Quando o rico vai a um restaurante e o estabelecimento comete um erro no valor da conta, certamente, ele não vai nem perceber. Se ele estiver acompanhado, então, com muitos amigos ou com uma pessoa que ama muito, a chance de ir embora sem notar o erro é maior. Mesmo notando o erro, é maior a chance de ele ir embora sem questionar. 

Mas quando uma pessoa que está passando por dificuldades financeiras vai a um restaurante de um padrão de valor mais elevado, e a conta vem errada, provavelmente, ela vai questionar cada centavo. Se estiver sozinha ou, ainda, após a perda de uma pessoa amada, ou em um momento ruim da sua vida, é maior a chance de ela fazer uma  confusão no lugar.

Isso nos leva a entender que quando temos em abundância, quando nos sentimos amados e “ricos”, buscamos menos a justiça da Terra. Isso acontece, principalmente, se temos a certeza do amor de Deus por nós e do quanto Ele já nos presentou. 

Isso já aconteceu comigo inúmeras vezes. Quando eu estava bem na minha vida, paguei a compra com um valor a mais, sem reclamar. Dei mais quando me pediram. Quando eu estava apaixonado, então, esquecia o valor dos presentes. Comprava-os. 

E, quando eu não estava tão bem, briguei no trabalho por qualquer coisa que me desagradasse. O mesmo com o meu vizinho. Passei “reto” quando vi um pedinte na rua e até reclamei que ele estivesse pedindo, porque “ele deveria se esforçar mais”. 

Na minha carência, eu recorro mais à justiça. É importante não esquecer disso. 

Quando eu estou recorrendo à justiça, brigando por algo, disputando, tendo rivalidades, me incomodando demais com algo que me dizem ou me fazem, me achando injustiçado, isso é um termômetro na minha boca marcando 38 graus. É um sinal claro de que eu não estou bem. 

Nesse momento, eu preciso me recolher para a reflexão e oração. Porque o que vai resolver o meu problema não é “descontar” a minha raiva naquele que me causou algum dano, nem fazê-lo pagar por isso. 

Porque o meu problema não é o dano que ele me causou, mas a minha carência, o meu momento um pouco difícil na vida, a falta de relações verdadeiras, de momentos felizes. No fundo, tudo isso reflete o meu sentimento de não ser amado nem presenteado por Deus. 

Então, só tem um jeito de eu resolver o meu problema: me voltando para Deus. Refletindo sobre o quanto eu sou amado e presenteado todos os dias, até mesmo por existir. Nada é meu, nem o meu corpo. E tudo me é dado. 

“Mas eu luto para conseguir”, eu poderia pensar. Mas até para lutar, eu preciso de dons e habilidades que me são dadas de graça. Sou beneficiado pelo sucesso dos meus antepassados. Todos os dias, aparece alguém para me ajudar, com atos e palavras. 

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“Não ofereça resistência ao malvado”, me diz o Senhor. Porque o malvado já está com o problema de que eu acabei de falar. Ele não se sente amado, por isso faz o mal. Se eu revidar, eu estarei assinando o meu atestado da mesma doença que a dele. Eu estarei constatando que eu também estou malvado. Preciso da solução da qual eu falei anteriormente: Deus. 

Quando eu não ofereço resistência ou um troco ao malvado, claramente, é porque sou o rico do restaurante. Estou rico e presenteado. Estou cheio de Deus. Sou feliz. Já sou feliz. A justiça já está feita na minha vida. É por isso que não tenho motivos suficientes para revidar. 

Quando eu sou rico de Deus, transbordo com o amor Dele. Então, além de eu estar bem, quero que o meu irmão fique bem também. Por isso, quando ele bate na minha face, eu ofereço a outra. Pode ser que ele bata na outra, e novamente na outra, até que ele entenda que o que ele está fazendo não resolve o problema dele. 

Pode ser que ele se canse de bater e vá embora. E, à noite, ele conclua que ele está na miséria, e chore. Refletindo mais, ele vai entender que aquele que ofereceu a face outra e outra vez, estava na riqueza de Deus. 

O que bate sem resistência do outro vai entender que não era ele que era forte. Obviamente, era o outro, que tudo suportou sem se importar. Que lição! 

É isso que Jesus quer para nós. Ele não veio, simplesmente, dar regras novas. Ele quer que pensemos além. Que nós sejamos, realmente, felizes e façamos os outros felizes. Assim, o mundo será todo feliz, em um movimento contínuo, onde um ajuda o outro a ser saciado por Deus. 

Jesus dá quatro exemplos sobre essa disputa entre o bem e o mal. 

No primeiro, fala de quem me bate. Quem bate na minha cara, que é a minha apresentação ao mundo. É a minha honra. Pode ser que não me bata na cara, literalmente, mas na minha honra. 

No segundo, fala de quem me processa, de quem recorre a um poder superior ou até a uma Assembléia, um grupo de irmãos para me tomar “a túnica”, e a túnica é a roupa, aquilo que me protege do frio e do sol, que cobre a minha vergonha, que me dá até uma identidade, em parte. A túnica é a casa do meu corpo. Ela pode parecer muito importante, mas Jesus ensina a entregá-la sem resistência para que o outro perceba a miséria dele e a força de quem não resistiu. 

No terceiro, fala de quem me obriga a andar com ele, como os romanos faziam com os judeus, os obrigando a guiá-lo a um lugar ou a carregar coisas. 

Quando eu resisto a estas ordens, eu demonstro a minha malvadeza, que eu não sou amado. Então, o malvado que me obrigou fica satisfeito em saber que são todos mal-amados, e aprende nada de bom. 

Mas se eu não resisto e ofereço até mais, o malvado vê que eu sou rico e ele miserável. Incomoda-se com isso. E me vê como a sua luz. Na hora ou mais tarde, vai ser grato a mim. 

O mesmo acontece no último exemplo de Jesus: dar gratuitamente a quem me pedir algo ou mesmo pedir emprestado. Eu vou fazer isso quando me sinto próximo e amado por Deus. Não vai ser obrigação nem por outro motivo. Vai ser natural. Esse é um termômetro para a minha vida: quanto mais generoso eu sou, mais feliz e amado por Deus eu sou e me sinto. 

Mas como é difícil fazer todas essas coisas, eu posso pensar. Isso vai ficar mais difícil quando eu não tenho consciência do amor de Deus. Portanto, preciso da vida com Deus. E preciso olhar para o lado e ver todos os presentes que ele me dá sem nenhum esforço meu. E quanto que eu posso fazer com os presentes dados para conseguir ainda mais e ser mais feliz. 

Eu preciso me convencer disso. Eu preciso conversar sobre os meus presentes. Me unir a pessoas que pensam assim também. Preciso criar um sistema positivo. Meditações, reflexões, visualizações, boas ações que comprovam que eu sou rico de Deus. 

Quanto mais eu ver essa realidade acontecendo, eu me doando, dando a outra face, dando a túnica, guiando o outro mais do que ele pediu, dando e emprestando, mais feliz eu vou ser e mais confiante de que eu estou com Deus e ajudando no Seu Plano de mundo feliz e de Eternidade. 

Pai, me ajuda neste caminho. Ajuda a me livrar da carência, de não me sentir amado pelo Senhor e por todos os irmãos, de me sentir injustiçado e com sede de justiça. 

Mostra-me o Teu Amor, torná-lo vivo na minha consciência, no meu coração. Que eu me encha com Ele. Eu o desejo enormemente, meu Pai. Quero viver cheio dele d transbordando de amor para todos os irmãos. 

Quero ser um colaborador para esse mundo mais feliz. Quero entender a Tua justiça profundamente, vendo além da minha justiça, que, na verdade, não é nada justa. 

Obrigado, Senhor, por todas as vitórias que tive quando fui generoso. Eu me fortaleci. Obrigado pela Tua palavra neste momento. 

Obrigado por me amparar quando eu fui mal. Por ter paciência comigo e me guiar pela mão até que eu entendesse melhor aquelas situações. Eu quero fazer o mesmo com todos. Quero ser o Teu espelho, no que me for possível e da Tua vontade.

Pai, tira a rivalidade do meu coração. Abre o meu coração para não ser mal, mas ajudar e trazer a paz. 

Que bom entender que sou Teu filho e nasci para vier Contigo eternamente. 

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